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Relações de gênero na prática do swing
O swing, popularmente conhecido como troca de casais, ainda é uma prática sexual cercada por estigmas e preconceitos. Algumas das questões mais polêmicas estão ligadas à prática homossexual masculina e a uma possível dominação do homem. “Para alguns, o swing é um mundo machista, de mulheres submissas”, aponta a cientista social e doutoranda em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/UFRJ) Olivia von der Weid. “Existe uma crença de que o homem imduz a mulher a fazer esse tipo de prática e que a mulher só aceitaria fazer isso por medo de perder o marido”, completa. Autora da dissertação Adultério consentido: gênero, corpo e sexualidade na prática do swing, a pesquisadora realizou entrevistas na cidade do Rio de Janeiro com 11 casais adeptos da prática, além de efetuar a observação de 19 encontros realizados por esses casais em casas especializadas. Essa pesquisa também serviu de embasamento para o artigo Masculino e feminino na prática de swing, publicado na revista eletrônica “Sexualidade, Saúde e Sociedade”, em dezembro de 2009. Seu estudo aborda as relações afetivo-sexuais entre homens e mulheres que praticam swing e as identidades sexuais e de gênero que são construídas a partir dessa prática. “Entender o comportamento e as relações de casais adeptos do swing traz à tona questões importantes sobre a forma como compreendemos a liberdade sexual, a dominação masculina e a homossexualidade”, afirma a pesquisadora. Olivia von der Weid destaca que os resultados de sua pesquisa apontaram para uma ambiguidade em relação à própria prática. Apesar de apresentar traços de maior liberdade sexual por parte de seus adeptos, a prática também possui aspectos de dominação masculina. “Em ambientes dedicados à prática de swing coexistem dois códigos diferentes. Um deles é o discurso da liberdade, da experimentação, de casais mais abertos que têm possibilidades de experimentar suas fantasias sexuais. Por outro lado, permanecem alguns códigos conservadores”, explica. Um dos códigos que podem ser considerados tradicionais está ligado à figura do corpo feminino. “Em casas de swing, é o corpo da mulher que estabelece a ponte entre os casais, funcionando como uma espécie de vitrine”, aponta a pesquisadora. “São as mulheres que fazem striptease durante as festas e se vestem com roupas mais sensuais. O sujeito do desejo continua sendo o homem e o uso do corpo feminino serve para ativar esse desejo”, aponta. Novamente, o desejo do homem aparece como determinante, já que na maior parte das vezes, parte do homem a iniciativa para a experimentação da prática. Segundo Olivia von der Weid, em nove dos 11 casais entrevistados, foram os homens que sugeriram à parceira a ida a uma casa de swing. Para a autora do estudo, no entanto, esse tipo de dominação masculina não existe apenas ali. “Acho perigoso olharmos para esses casais com um olhar de acusação, eles também reproduzem comportamentos que existem na sociedade como um todo. Não é só uma incoerência, realmente coexistem práticas tradicionais e outras possibilidades mais modernas, mais liberais”, diz. Swing e homossexualidade Outra falácia em torno da prática diz respeito à ausência de regras. Em casas de swing nem tudo é permitido. Olivia von der Weid explica que existe uma etiqueta swinger, com normas que orientam o comportamento dos adeptos da prática. Segundo ela, “a principal dessas regras diz respeito ao consentimento, ao acordo entre os casais. Segundo a etiqueta de swing, tudo é permitido, mas nada é obrigatório, ou seja, as coisas funcionam em torno do consentimento entre os praticantes”. Porém, existem normas implícitas, apontadas por seus entrevistados, que parecem fugir à regra do consentimento. Uma delas é a negação à homossexualidade masculina. “Os homens negam esse tipo de prática e negam inclusive o desejo, afirmando que isso a princípio não acontece no ambiente de swing. Somente um de meus entrevistados revelou durante a entrevista que tinha vontade de se relacionar com outros homens, mas que ali ele não faria porque era ‘proibido’”, explica a cientista social. Apesar da interdição à homossexualidade masculina, não existem restrições a práticas homossexuais por parte de mulheres. “Isso se apresenta como uma dupla moral em relação à prática homossexual no meio, porque enquanto a prática masculina é afastada ou aparece apenas enquanto acusação ou segredo, a feminina é aceita e praticada”, afirma Olivia von der Weid. As mulheres, seja por iniciativa própria ou estímulo do parceiro, se relacionam com outras mulheres, o que, segundo as entrevistadas, não interfere em sua identidade de gênero. De acordo com a pesquisadora, “no caso feminino, ser mulher não depende de se relacionar sexualmente apenas com homens. Entre as praticantes de swing, relacionar-se com mulheres é muito comum e ter tido esta experiência não coloca em dúvida sua feminilidade nem para elas mesmas, nem para os outros. Já em relação aos homens, o fato de manterem relações homossexuais afetaria a sua identidade de gênero”, diz. Segundo a cientista social, essa é uma prática cercada por ambiguidades: “Existem comportamentos que levam a uma interpretação de dominação masculina, porém algumas mulheres acabam se descobrindo sexualmente ou experimentando vivências que elas nunca tiveram, até mesmo em termos de quantidade de parceiros sexuais. Os encontros de swing passam a ser momentos em que as mulheres podem experimentar o seu próprio corpo, o seu próprio prazer e com isso dizem que se tornaram mais conhecedoras de si próprias”, afirma. Publicada em: 13/05/2010 |