Longevidade sexual, situação conjugal e reprodutiva das mulheres e proteção ao HIV/Aids: algumas evidências das PNDS/96 e PNDS/2006
A demógrafa Sandra Garcia apresentou dados sobre o início da atividade sexual com o uso do preservativo e esterilização feminina, captados pela PNDS/2006. Segundo informa, em relação à situação conjugal, houve, no período compreendido entre os dois inquéritos, uma diminuição no grupo das mulheres solteiras e no das que declararam estar em união formal, e um aumento daquelas em união consensual.
“O total de mulheres que declararam ter tido uma relação sexual uma vez na vida foi de 89% em 2006. Separadas por idade, houve um aumento significativo (45%) na faixa de 15 a 19 anos. De acordo com a PNDS/96, a idade mediana na primeira relação sexual é de 17 anos, na faixa de 20 a 24 anos. No grupo de 34 a 49 anos a idade da iniciação sexual é de 18 anos. Temos dois grupos, o de 17 e o de 18 anos. Com relação à PNDS/2006, há uma diferença: para as mulheres entrevistadas de 20 a 34 anos, a idade mediana de entrada na vida sexual é de 19 anos; de 35 a 44, 20 anos e de 44 a 49, 21 anos”, relatou a pesquisadora.
A percentagem de mulheres que tiveram sua primeira relação sexual antes dos 15 anos praticamente triplicou em dez anos. “Tínhamos, na faixa etária de 15 a 19 anos, 11% em 1996. E agora, com a PNDS/2006, temos quase 33%”, disse ela.
Em relação ao uso do preservativo como dupla proteção, a pesquisadora afirmou: “Vimos que 95% das mulheres afirmaram saber onde obter a camisinha masculina, o que não acontece com a camisinha feminina – apenas 50% afirmaram saber onde obtê-la”, disse a convidada.
O uso dos métodos contraceptivos na primeira relação sexual foi também analisado pela pesquisadora. “Em 2006, mais de 80% das mulheres de 15 a 24 anos usaram a camisinha na primeira relação sexual. Em relação à pílula, há um uso declarado menor nesta faixa etária, mas na medida em que a idade aumenta, o uso da pílula na primeira relação sexual também aumenta. Muitos métodos tomam força com o aumento da idade, a pílula é um exemplo”, revelou.
Segundo esclarece, a pílula teve, em 96, uma maior declaração de uso do que em 2006. O coito interrompido também era mais utilizado na faixa etária de 20 a 24 anos, em 96.
Outro aspecto levantado pela pesquisa de 2006 foi a consistência do uso do preservativo em todas as relações sexuais, sejam elas estáveis ou eventuais. “Usa-se mais consistentemente na faixa etária de 15 a 24 anos, e o uso vai diminuindo no decorrer do ciclo de vida. O total de uso consistente foi de 19%. Conforme aumenta a faixa etária, aumenta em muito a declaração de nunca ter usado a camisinha”, destacou.
O não uso do método, na última relação sexual, também cresce com o aumento dos grupos etários – de 15 a 19 anos, 53%, e de 45 a 49, 86%. “As razões alegadas para o não uso da camisinha masculina na última relação são múltiplas: “Confio no meu parceiro”, “Não gosto de usar” e “Meu parceiro não quis”, são respostas que estão relacionadas às questões de gênero. A primeira delas demonstra a dificuldade da mulher em negociar o uso. A segunda pode ser uma introjeção do que o parceiro diz e a terceira pode estar relacionada a uma relação de poder”, ponderou.
Para ela, o “confiar no parceiro” é uma resposta que precisa ser melhor investigada. “Em uma pesquisa qualitativa realizada em Recife (PE), a resposta “Confio em meu parceiro” significava que as mulheres confiavam que o parceiro ia usar a camisinha com outra, e não que elas confiam na fidelidade do parceiro”, relatou.
Ao concluir sua apresentação, a pesquisadora afirmou: “Percebemos que, apesar de a maioria das mulheres conhecerem a função da dupla proteção da camisinha, o uso é relativamente baixo, isto está inserido na cultura brasileira, ou seja, o preservativo não é visto como método contraceptivo e as mulheres talvez precisassem ter alternativas de dupla proteção, como a pílula e o preservativo ou o preservativo e a tabela. Outra questão é o fato de, depois de 25 anos de epidemia da AIDS, e o uso do preservativo ter crescido entre os jovens, mas quando estes iniciam uma relação mais estável, a tendência é abandonar o seu uso, devido à questão da confiança no parceiro”, concluiu.