Tendências e padrões recentes da fecundidade e da contracepção no Brasil
A pesquisadora Suzana Cavenaghi (Ence/IBGE) ressaltou a continuada queda da fecundidade no Brasil, apontada pela PNDS/2006 em 1.8 filhos por mulher. “Temos um padrão, nas regiões mais desenvolvidas, de fecundidade baixa na faixa etária de 15 a 24 anos, o pico está na faixa de 20 a 29 anos. Em comparação aos outros países da América Latina, o Brasil tem uma fecundidade jovem”, avaliou a demógrafa.
Segundo esclarece, os países latino-americanos que têm altas taxas de fecundidade são aqueles que têm taxas de utilização de métodos de contracepção bastante baixas, mas em todos eles há um crescimento nos últimos vinte anos. “No Brasil, há uma mudança importante ocorrida entre 1996 e 2006. Todas as questões de sexualidade e HIV/AIDS trouxeram mudanças nas formas de comportamentos: há uma diminuição na adoção de métodos tradicionais de contracepção – em 1996, 9.7% das mulheres unidas usavam métodos tradicionais e, na PNDS/2006 somente 3.5% das mulheres afirmaram usar esses métodos”.
Houve, de acordo com a demógrafa, um aumento da esterilização em um primeiro período – de 1986 para 1996. Dez anos depois, a PNDS/2006 apresenta um percentual de 29% de mulheres esterilizadas, aumento também constatado em relação à esterilização masculina. “Em 2006, 5% das mulheres unidas declararam que seus maridos estavam esterilizados. Segundo dados da Autorização de Internação Hospitalar (AIH) do Sistema Único de Saúde (SUS), sistema que passou a tornar possível o registro de todas as laqueaduras e vasectomias, no Brasil, o número de vasectomias subiu de 5 mil, no ano 2000, para 25 mil em 2008. Já a laqueadura é dividida entre aquela que é feita fora do parto e a realizada durante uma cesariana. O registro desta última, iniciado em 98, começa com um patamar baixo e chega a 45 mil anuais em 2008”, relatou a pesquisadora.
No entanto, os registros da vasectomia são, segundo as pesquisas, ainda menores do que os da laqueadura. A idade do homem que faz essa cirurgia é maior do que a mulher laqueada.
Em relação à pílula e injetáveis, de 1996 para 2006, o uso de tais métodos pulou de 21% para 29%, igualando-se à esterilização feminina. O DIU, por sua vez, continuou em um patamar baixo. O aumento do uso da camisinha como método contraceptivo – e não de proteção às DST/AIDS – também foi significativo, ressaltou a convidada, principalmente entre as mulheres mais jovens.
“Os diferenciais urbano-rural no uso dos métodos contraceptivos são fatores importantes: na zona rural ainda há a predominância da esterilização feminina e também de pílulas e injetáveis. No urbano, há um uso maior tanto da esterilização masculina como da camisinha”, salientou a expositora.
A educação também conta. Há a prevalência da esterilização feminina entre as mulheres de educação mais baixa. Para as que receberam maior educação, a camisinha se apresenta como uma opção.
A professora concluiu sua apresentação com um conjunto de questionamentos. “Com relação à contracepção, ainda existe dificuldade no acesso aos métodos modernos e mais adequados, e persiste uma concentração alta em métodos femininos e pouca variação. Existe uma forma de dar acesso adequado aos métodos contraceptivos em um país tão grande quanto o Brasil? Qual a estratégia para fazer esses métodos chegarem até os usuários? É possível fazer com que a separação entre a reprodução e o exercício da sexualidade – que é aquilo que os métodos modernos, em teoria, nos proporcionam – seja possível na prática, e não somente na teoria?”