Infertilidade sob as óticas da Ciência e da Religião
Um dos maiores avanços da ciência, nas últimas décadas, foram as tecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial e a fertilização in vitro ou bebê de proveta. Estas tecnologias utilizam procedimentos médicos que substituem o ato sexual para a procriação, técnicas combatidas com ferocidade pela Igreja. O assunto será tema da palestra “Religiosidade no contexto das novas tecnologias reprodutivas”, que a antropóloga Naara Luna, do Museu Nacional, apresentará no dia 5 de agosto durante o Seminário Relações Familiares, Religião e Sexualidade.
Naara lembra que, enquanto estudava o assunto e fazia o trabalho de campo em hospitais que oferecem tratamento convencional de infertilidade ou reprodução assistida, deparou-se continuamente com evocações religiosas nas explicações sobre a infertilidade ou quanto ao insucesso ou êxito dos métodos. “Essas menções religiosas partiam tanto de pacientes como dos profissionais que as atendiam. Para elas, a infertilidade era vontade de Deus”, diz a pesquisadora.
Naara observou também que muitas usuárias dos serviços agarravam-se à religião como meio de enfrentar as incertezas de um tratamento médico desgastante. “Foi então que decidi investigar como a dimensão religiosa pode se imbricar na experiência de um tratamento de alta tecnologia. É importante ressaltar, em termos de campo religioso, que tais técnicas são condenadas no todo pela Igreja Católica”, ressalta. Uma das questões mais discutidas é a produção de embriões fora do corpo na fertilização in vitro: o que fazer desses seres quando não são transferidos para o útero? É possível chamá-los de seres humanos conforme defende a Igreja Católica? “No meu trabalho analiso a vivência religiosa de usuárias de serviços de infertilidade e dos profissionais que as atendem, e como suas representações sobre questões referentes ao contexto das novas tecnologias reprodutivas são informadas pela religião”, explica a antropóloga.