O Dossiê “Fundamentalismos”, sexualidade e direitos humanos: interrogando termos, expandindo horizontes busca problematizar algumas fronteiras atualmente fortalecidas pelo clima de polarização política que o “giro conservador” suscita. Assim, os seis artigos selecionados discutem dogmatismos no contexto de controvérsias sociais que conectam política sexual, ciência, religião e direitos de modos às vezes inusitados: o “negacionismo do HIV” na África do Sul sob a presidência de Mbeki; o “abolicionismo da prostituição” na Argentina contemporânea; o “essencialismo” do positivismo jurídico no debate constitucional sobre o direito ao aborto no Brasil; a homofobia da Igreja Católica Romana e sua contrapartida na acolhida à diversidade sexual de diversas comunidades cristãs; as ambiguidades e contradições bioéticos e biopolíticas das justificativas médico-científicas do acesso à contracepção em países em desenvolvimento.
Em estreito diálogo com os artigos do dossiê, os artigos de fluxo contínuo da revista refletem também clima de conflito. Um grupo de artigos aborda os direitos humanos das mulheres, por um lado em contextos de mobilidade populacional onde comparecem novamente os efeitos paradoxais de políticas contra o tráfico e a exploração sexual; e por outro em debates sobre aborto que conectam moralidade, religião e ciência. O entrelaçamento ciência, política sexual e secularização adquire relevo também, com diferentes matizes, em outros três tópicos abordados em artigos: o projeto da “cura” de homossexuais em voga atualmente em discussões parlamentares no Brasil; o fascínio pela “inversão sexual” da medicina legal de início do Século XX na Argentina; e, no mesmo período, vozes da profissão médica que defendiam o prazer (hetero)sexual independentemente da reprodução.